sexta-feira, 10 de abril de 2020

Ejecção inadvertida em Rafale


Foto: Força Aérea Francesa

Uma viagem no Dassault Rafale B bilugar, da Força Aérea Francesa não aconteceu como planeado, quando um passageiro stressado no banco traseiro se ejectou inadvertidamente do caça de dois lugares. Só não houve perda total da aeronave devido a uma falha não detectada anteriormente que impedia a ejecção do piloto.

O passageiro do banco traseiro do Rafale B, era um contratado de 64 anos e responsável pelas actividades de teste de uma empresa francesa de armamento, de acordo com o relatório publicado em 6 de abril pelo departamento de investigação de acidentes aéreos das forças armadas francesas.

Quando o passageiro chegou a Saint Dizier na noite anterior ao voo, ele não sabia que os seus colegas lhe haviam organizado um passeio especial no banco traseiro do caça mais avançado da Força Aérea Francesa, diz o relatório

Os seus colegas e amigos, que incluía um ex-piloto da Força Aérea Francesa, queriam surpreender o passageiro com o voo, mas não contaram com a reacção deste.

De acordo com uma cópia traduzida do relatório em língua francesa, o passageiro “nunca expressou o desejo de realizar esse tipo de voo e, em particular, em Rafale”.

Diz também no relatório, como o gesto foi uma surpresa, o passageiro só foi informado horas antes do voo, deixando pouco tempo para se preparar e mentalizar e achando ele que não podia recusar o gesto, devido à pressão social imposta pelos seus colegas e amigos.

Um exame médico pré-voo obrigatório resultou numa recomendação do médico para limitar qualquer força de manobra a menos de 3 gs. No entanto, uma falha no sistema electrónico do consultório, impediu que a orientação do médico fosse transmitida ao passageiro ou ao piloto do Rafale envolvido no acidente, diz o relatório.

Também se pode ler no relatório, que a surpresa arranjada às pressas , implicava que o passageiro tinha de entrar em qualquer voo que estivesse organizado para aquele dia, neste caso, era uma missão de patrulha de rotina de três aeronaves. Esse tipo de missão inclui uma subida padrão imediatamente após a descolagem com cargas superiores a 4,5 gs.

O passageiro parecia entusiasmado com o piloto quando subiram para o cockpit, mas havia sinais de stress. Quando este se sentou, o seu relógio de pulso registava a frequência cardíaca, que estava entre 136 e 142, sabendo que a frequência cardíaca máxima para um homem da sua idade é de 156 batimentos por minuto, pode ler-se no mesmo relatório.

Talvez devido ao stress, o passageiro não tenha conseguido prender correctamente a parte de trás da alça do ombro permitindo mais movimentos do que o necessário, para além disso não apertou também a perna direita do traje de pressão, não baixou a viseira do capacete nem prendeu a tira do queixo do mesmo.

A experiência do passageiro no banco de trás do Dassault Rafale B da Força Aérea Francesa foi muito breve.

Quando o piloto subiu na descolagem, o Rafale atingiu rapidamente cargas aerodinâmicas acima de 4,5 gs, tudo isto num curto espaço de tempo de 10 segundos. O piloto nivelou-se bruscamente, fazendo com que as cargas se invertessem para 0,63 gs negativos. O passageiro chocado, cujas alças dos ombros se encontravam soltas, podiam ter permitido que ele flutuasse para cima, alcançando uma alavanca com a mão, que por acaso era o mecanismo que fez com que o seu assento fosse ejectado inadvertidamente.

Como o passageiro falhou alguns dos procedimentos de segurança, nomeadamente em baixar a viseira e prender a tira do queixo, a exposição aos 200 kh e o fluxo do ar fora da aeronave fez com que o capacete voasse. Além dos ferimentos leves no rosto, o passageiro pousou em segurança na pista depois de o seu para-quedas se ter aberto a cerca de 2.000 pés de altitude.

O comando de ejecção inadvertida do passageiro poderia ter sido desastroso para a aeronave. A versão de dois lugares do Rafale B permite que o piloto seleccione entre duas opções: “1” permite que apenas um único assento seja ejectado quando a alavanca é puxada, e “2” ordena que ambos os assentos sejam ejectados quando apenas uma é puxada. O relatório concluiu que o piloto seleccionou a opção “2” para este voo, o que significa que o assento do piloto também se deveria ter ejectado.

A sequência de ejecção prosseguiu normalmente, com o velame do para-quedas dos dois assentos saindo e o banco traseiro disparando. No entanto, a carga explosiva conectada ao banco da frente nunca recebeu um comando para disparar, devido a tal avaria não detectada anteriormente. Como resultado, o piloto permaneceu a bordo da aeronave, embora com um dossel e o banco traseiro ausentes. O piloto efectuou manobras de segurança, como deitar fora combustível e voltou a Saint Dizier para aterrar, diz o relatório do departamento de investigação de acidentes aéreos das forças armadas francesas.

A aeronave bilugar Dassault Rafale B da Força Aérea Francesa, foi entretanto isolada por um período de 24 horas até que a carga explosiva do banco da frente pudesse ser desarmada.

Um gesto bem intencionado que deu errado, e que expôs uma falha grave anteriormente não detectada no sistema de ejecção do Dassault Rafale B.

Nenhum comentário:

Postar um comentário